terça-feira, 23 de agosto de 2011

Sou do Tempo ...


Sou do tempo da máquina de escrever, do copo de vidro, da xícara de café e do formulário com carbono.
Sou do tempo em que chefe era líder que calçava as sandálias de seus chefiados.
Sou do tempo em que um chefe não chegava a essa função sem entender aquilo que faria.
Sou do tempo de tantos que fizeram suas partes e deixaram seus impecáveis legados. Do tempo em que a experiência no trabalho público valia o mesmo, ou até mais, que um diploma acadêmico.
Sou do tempo em que qualquer um poderia chegar lá, desde que merecesse.
Sou do tempo em que o serviço público era feito por homens e mulheres de valor e condutas públicas inquestionáveis. Do tempo em que os funcionários eram unidos e se frequentavam sem medo ou vergonha. Do tempo em que exigir compromisso era desnecessário.
Sou do tempo da solidariedade, da compaixão, da ajuda mútua e dos mutirões.
Sou do tempo em que chefias inspiravam e ensinavam pelos seus exemplos. Do tempo em que a burocracia era eficaz e a mais valiosa gratificação que recebíamos era ofertada por um contribuinte grato pelo bom atendimento.
Sou do tempo em que receber mais do que a justa medida era, no mínimo, socialmente condenável. Do tempo em que a experiência dos anciãos era aplicada em casos de dúvidas.
Sou do tempo em que falávamos sobre como melhorar aquilo que fazíamos. As portas dos gabinetes estavam abertas para se falar de melhorias no trabalho e dificuldades, inclusive pessoais.  Por que não? Nós éramos assim.
Sou do tempo em que o hospital municipal tinha condições de atender com respeito e eficiência aos funcionários e seus dependentes. Do tempo em que a Previdência Municipal concedia empréstimos pessoais e imobiliários.
Sou do tempo em que mulheres se aposentavam aos trinta anos de serviço e homens aos trinta e cinco. Do tempo em que proventos e vencimentos tinham o mesmo tratamento. Do tempo dos reajustes anuais sabidos antecipadamente com a publicação das receitas e despesas no Diário Oficial do Município.
Sou do tempo em que não se falava tanto em sustentabilidade, trabalho em equipe, valorização, motivação, transparência e tantas outras palavras frequentemente usadas nos tempos modernos.
Sou de um tempo, por fim, que o próprio tempo deixou para trás.
Provavelmente pelos mais de trinta anos em que estou em Finanças, pediram gentilmente para que eu escrevesse algo sobre a Secretaria. Perdoem-me por eu não ter dito o que provavelmente esperavam que eu dissesse e por eu não ter direcionado o meu texto com otimismo aos funcionários mais novos. Acontece que só me veio saudade.
 -LFOM-

2 comentários:

  1. É meu amigo, bons tempos.
    Infelizmente estamos no tempo em que o Prefeito valoriza apenas parte de seus funcionários; no tempo em que nosso próprio Secretário não nos recebe; no tempo em que para ocupar um cargo, mais vale a indicação do que a qualificação.
    É meu amigo, maus tempos.

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  2. Parabéns. Sou do tempo em que ainda fazíamos empréstimos pelo antigo "MONTEPIO" com juros abaixo do mercado e sou do presente tempo em que sou obrigada a fazer "consignado" pra saldar dívidas adquiridas ao longo de um salário impróprio e irrisório...

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